Au Pairs - It's Obvious
- André X
- 1 de set. de 2019
- 2 min de leitura
Atualizado: 2 de set. de 2019
A chamada “segunda onda do punk”, que eu prefiro chamar de pós-punk, surgiu em 1978. Nela, se observava dois caminhos. O primeiro que levou à caricaturização do punk, todos se vestindo iguais, tocando iguais e se fechando numa bolha de patrulhamento ideológico/musical, e outro expandindo as possibilidades sonoras, uma vez que agora tudo era permitido e a mesclagem musical/política e de costumes estava se sedimentando. Era uma época emocionante e inovadora. Toda semana o tio Peel tocando compactos vindos dos mais diversos cantos do mundo, de selos obscuros e com prensagens limitadas. A revigorização da cena estava acelerada, com bandas sendo elevadas aos status de “nova maravilha do momento” em uma semana e esquecidas na outra.
Temas que tratam dos costumes, dos relacionamentos humanos, sejam de gênero, de classe ou de raça começavam a aparecer cada vez mais, mas com uma pegada diferente: criticavam tanto os opressores, como os mantras clichês vindos das duas décadas posteriores. Era uma maneira de dizer: vocês fuderam nosso mundo com suas picuinhas e, agora, nossa geração quer fazer da forma certa.
Isso fica óbvio no primeiro compacto da banda Au Pairs, formada em 1978, vinda dos bairros periféricos de Birmingham. À frente, a Lesley Woods, uma das poucas lésbicas assumidas da cena. Importante registrar que o ambiente no qual a banda convivia era um melting pot cultural, graças ao grande número de imigrantes do Caribe, África e Oriente que moravam no mesmo bairro, expondo os membros da banda a um leque de músicas diferentes. A temática principal dos Au Pairs é a relação entre os sexos. Feminismo (visto por um novo ângulo), opressão patriátrica, sexualidade, tudo era abordado de forma natural, irônica e num contexto musical formidável. Importante frisar que a banda era formada por mulheres e homens, num ambiente colaborativo e aberto. Uau!

O primeiro compacto trás no lado A It’s Obvious, uma canção lenta, ritmada, com um quê de punk/funk, bebendo muito em Gang of Four e Joy Division, mas com um pé no reggae. Parece uma mistureba, mas eles conseguem acertar em cheio no resultado final. Uma cozinha de baixo e batera quase hipnótica e letras que tratam do falso normal que existe entre os sexos, fingindo serem iguais, mas que é na verdade um equilíbrio instável, podendo a qualquer hora voltar ao machismo dominante. Soa pesado, mas é escrito poeticamente e soa perfeito. O refrão, dela direcionado para ele: “somos iguais, mas diferentes”, diz tudo sobre a falsidade e o preconceito.

No o outro lado A, Diet, que vai muito além de criticar a imposição da forma perfeita que a sociedade faz à mulher. Frases como “ela não tem opinião política”, “ele dirige o carro, ela a máquina de lavar” e “ela precisa ser tranquilizada” fazem dessa canção um lado B clássico. Forte como um chute no saco. Eram esses tipos de assuntos que cantávamos e ouvíamos no underground em 1978/1979.

O selo independente que lançou essa pérola era o Human Records, que tinha sem seu catálogo outras maravilhas, como Slits, Danngerous Girls, Mo-detts e Klaus Schulze. Vale a pena correr atrás das coletânea Humans, de 1981.
Aqui Au Pairs tocando uma versão ao vivo de It's Obvious que é cheia de energia dançante:
Aqui, a versão de estúdio:
E aqui, o outro lado A:
Comentarios