1978 - o ano que a repressa rompeu e a enxurrada começou
- André X
- 31 de dez. de 2017
- 3 min de leitura
A juventude não queria mais escrever um livro, plantar uma árvore e ter um filho. Para deixar sua marca, precisava era ter um single!

Em janeiro de 1978, após uma turbulenta turnê norte-americana, John Lydon deixa os Sex Pistols, marcando o fim de uma era. O Clash já estava confortavelmente instalado no establishment do rock n roll, o Damned havia implodido, os Ramones viraram uma caricatura deles mesmos e os Stranglers se fecharam no seu mundo à cata do Meninblack. O punk havia acabado?
Se tirarmos os olhos dos holofotes, procurando nas sobras, vemos que essas bandas acima simplesmente abriram as comportas, a consequências estavam mais em baixo, no underground, na mudança de atitude dos jovens. Uma nova premissa reinava, na qual o importante não era ser um virtuoso, mas sim reunir amigos e se divertir conscientemente. Onde o social começa a se misturar com a arte. Sexo, raça, política, problemas do cotidiano são retratados nas letras; substituindo temas sem referência nenhuma a vidas dos ouvintes, como martelos dos deuses, carros turbinados ou divas inalcançáveis.
O pico desse refluxo pós-Pistols foi no biênio 1978-1979. Todos queriam participar e a entrada era ter um disco, um compacto que fosse. Gravar e prensar um disquinho de 7 polegadas, um single, tornou-se acessível. Milhares de pequenos selos, muitos com só um lançamento, começaram a proliferar como cogumelos num tronco húmido. O tabu de que uma gravação precisava de gravadora grande para bancar um estúdio caríssimo na Jamaica com um produtor conceituado virou pó. Bastava ter uma canção, agendar umas horas no estúdio do bairro, apertar o REC e, pronto, você está participando da revolução!
Revolução que trouxe de volta o compacto ao centro do rock n roll. De acordo com o escritor Jon Dennis, os Beatles mataram o rock n roll quando inventaram o álbum conceitual, lançando o Sargent Peppers. Até então, o que importava era o single. Lado A, com uma canção arrebentadora e, lado B, com uma mais audaciosa. Era a dose perfeita de pop, satisfação garantida e retratos de uma época.
Outro aspecto bacana desse biênio foi a sua globalização, miscigenação e congregação. O mundo se tornou seu bairro. O período, batizado de pós-punk, no excelente livro Rip it Up and Start Again, do Simon Reynolds, tem como característica abandonar a estética Chuck Berry, tão presente nos punks originais, com seus acordes tradicionais, riffs manjados e pouca inovação sonora. Essas centenas de bandas, na sua maioria anônimas ao estrelato, bebiam também em outras fontes: reggae, funk, soul, kraut rock, experimentalismo eletrônico e disco. E, mais importante, era aceitável dançar! Esse fenômeno teve seu epicentro na Inglaterra, mas irradiou para o mundo todo. No Brasil, basta ver os compactos de, entre outros, Lixomania e Olho Seco. Tudo bem, foram de 1980, mas o que são uns anos a mais num mundo pré-internet, onde a velocidade da informação era mais lenta? Com certeza, a inspiração foi a efervescência 78/79.
O pico desse refluxo pós-Pistols foi no biênio 1978-1979. Todos queriam participar e a entrada era ter um disco, um compacto que fosse.
Pessoalmente, esse período me marcou muito. Moramos na Inglaterra de 1978 a 1980, por ocasião do doutorado da minha mãe. Vivia indo para shows de bandas que não conhecia, de ouvido grudado nos programas do John Peel, o único DJ que sacou o que estava acontecendo e abrindo suas playlists às novas descobertas. Deixava de almoçar na escola, para guardar dinheiro para comprar singles no fim de semana. Ia a pé, para usar o dinheiro da passagem para ver shows. Gravava tudo em K7s que se perderam nessas décadas. Mas as músicas ficaram na cabeça e, recentemente, redescobri o prazer de ouvir vinil, compactos, sete polegadas e, também, de coleciona-los. Especialmente desse período. Esse blog é uma tentativa de compartilhar minha coleção com outros igualmente atraídos por essa época.
Parabéns pelo site, Mueller. Agora tenho o que conferir diariamente na internet. Cheers, Punk Rockers!
Em 78, estava há apenas 1 ano em Bsb e já frequentava o Cafofo. Pinga, Blitz64 e mulheres de coleira. A complete new concept for me. Não admitia não passar por aquilo. Seu bom gosto alimentará este site. And I'll love it!
Bolachinhas rulez!