Alberto Y Lost Trio Paranoia - Snuff Rock EP
- André X
- 26 de fev. de 2018
- 2 min de leitura
Arriscando ser redundante em algum nível, afirmo que é difícil comediantes serem levados a sério. Não é o caso dos Albertos Y Los Trio Paranoia, que tem no seu curriculum abertura das turnês do Police, Blondie e Stranglers. Não bastando, ainda lançaram um ep que – apesar do conteúdo besteirol satírico – é considerado um clássico de 1977.
C.P. Lee, aquele do Gerry and the Holograms, formou a banda em 1974, sempre fazendo versões satíricas dos sucessos underground, ganhando fãs em gente como o Hawkwind. Tirou o nome da banda paraguaia, Alberto y los trios Paraguaios. Com o punk, acharam terreno fértil para rir e fazer rir desse bando de jovens que se achavam tão sérios. Contando fortemente a seu favor, eles eram excelentes músicos e se identificavam com o novo som emergindo em 1977/1978.

Nessa época, assombrava o imaginário burguês uma tendência de filmes chamadas snuff, nos quais tudo era verdadeiro. As pessoas eram machucadas, trucidadas, mortas e estupradas na real, tudo registrado em filmes e vendido no mercado negro. Nicolas Cage até chegou a estrelar num longa sobre o tema, chamado 8mm. Era tipo o Baleia Azul de então.

Inspiração para os Albertos lançarem o excelente Snuff Rock EP, com quatro faixas que, por si só, já valeriam a compra. Adicione a visão caricatural que contém sobre o punk, e temos uma obra-prima. Logo na primeira faixa, a canção Kill, um punk 77 que não deixa nada a desejar aos punks sérios. Nas letras, suicídio e atitude de saco cheio da vida, com aquele humor negro inglês. “Vou cortar meu fígado e jogar na sua cara”, canta o personagem punk. Ainda tem a frase clássica e filosófica: “A vida é barata, mas a morte é grátis”. Foi lançado pela Stiff Records, mais um ponto a seu favor.
Em seguida, Gobbin’ on Life, ou seja, cuspindo na vida, inspirada na tendência que os punks tinham de cuspir nas bandas como sinal de apreciação. Quando morava na Inglaterra, 1978, vi isso com algumas bandas. É nojento e é claro que os músicos não gostavam. Num show do Damned, eles chegaram a sair do palco de tanto cuspe que chovia neles.
Lado B vem com dois snuffin’s. O primeiro Snuffin’ Like That, com o clássico começo Ramones 1-2-3-4, só que não.
E o disquinho termina com um reggae, como não poderia deixar de ser, Snuffin’ In a Babylon. Essa música já coloquei em muita compilação de reggae e música jamaicana e ninguém suspeitou ser uma paródia.
Nos dois anos que passei na Inglaterra, meu irmão era meu companheiro nos shows que íamos no Top Rank Club, todo domingo. O único que ele não quis ir foi ver uma nova banda, ainda sem disco, chamada the Police. Eu fui, não por causa destes, mas por que os Albertos estavam abrindo e eu já conhecia por causa de uma fita que o Fê, baterista do Capital, tinha gravado da rádio quando ele morou lá com a família em 1977. Foi fantástico! A comédia começava na fila para entrar no clube, com pessoas fantasiadas fazendo gracinhas e uns "punks" da banda infiltrados no público. Quando Police entrou, cortou a graça com seu pop sério e a plateia esfriou.
Aqui uma amostra do show dos caras:
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