Buzzcocks - Parts 1, 2 & 3
- André X
- 28 de mar. de 2018
- 3 min de leitura
Uma coisa que sempre admirei nos Buzzcocks: eles entendiam o poder dos compactos. Cada sete polegadas lançada por eles era uma obra em si, pouquíssimos apareceram nos LPs. Esse é o espírito dos disquinhos, promover pérolas de pop/rock que se auto sustentam e proporcionam aquele momento especial para o ouvinte. Não ficam diluídas com outras músicas num álbum ou, Deus me livre, num CD.

Depois de três LPs e vários singles sensacionais, consolidando os Buzzcocks como compositores de mão cheia, letristas existencialistas e banda divertida ao vivo, a dualidade artística dos dois principais compositores, guitarristas e vocalistas, Pete Shelly e Steve Diggle, chega ao seu ápice. Junte a isso problemas que estavam tendo com a gravadora, EMI, já retratada na música homônima dos Sex Pistols, como um bando de idiotas numa fila (stupid fools who stand in line), que estava querendo um disco mais comercial para consolidar a banda no mainstream, e a situação fica insuportável, levando ao término dos Buzzcocks.

Shelly queria estar envolvido mais com synthpop, abrir para o mundo que era gay e cantar sobre distorções psicóticas e confusões mentais. Diggle, por outro lado, queria retratar o dia-a-dia das pessoas comuns, com um som mais cru. Ambos não queriam seguir o caminho proposto pela EMI.

Só que eles já estavam no meio da produção do quarto disco! Como resolver? Lançar o material que tinham na forma de três compactos nos últimos meses de 1980. Lembro, com pesar, de ir comprando em outubro, novembro e dezembro os disquinhos que traziam a numeração parte 1, parte 2 e parte 3, sabendo que após este último, não haveria mais Buzzcocks. Mas eles se foram com estilo, cada um desses singles é uma obra de arte.



Em outubro, somos brindados com Part 1, um compacto trazendo, como os outros dois, uma música do Diggle num lado e uma do Shelly do outro. Interessante ver que eles estavam fazendo exatamente o contrário do que a gravadora queria, indo numa viagem mais conceitual e experimentando com novos sons. Why She's a Girl from the Chainstore, composta e cantada pelo Diggle, é a mais Buzzcocks das seis músicas. Rápida, punky e com refrão chicletes, sobre uma menina que trabalha numa loja dessas de rede grande e filosofa sobre a vida. É a única música dessa séria que os Buzzcocks ainda tocam ao vivo - sim, ele voltaram nos anos 1990s, mas sem o punch inicial.
No outro lado (não tem lado A e B nessa série), uma música do Shelly, Are Everything, apresentando uma sonoridade mais atmosférica, porém ainda o perceptível estilo da banda, por causa do uso de cordas.
Novembro nos trouxe Part 2, com Diggle cantando Airwave Dreams, numa produção muito criticada por abafar as vozes na mixagem. Eu acho que foi de propósito, eles querendo trazer esse clima de massa sonora sem definição à frente do mix.
Shelly, no outro lado, apresenta Strange Thing, uma canção sobre acontecimentos estranhos que deixa exatamente essa sensação no ouvinte.
E, finalmente, Part 3, em dezembro, os Buzzcocks se despedem com Running Free, que não deixa dúvida que eles ainda teriam muito a nos mostrar.
E, minha favorita, What Do You Know?, com o uso de um naipe de metais trazendo um clima de soul e diversão ao estilo Buzzcocks. Se despedem nos proporcionando um sorriso final.
No meio das gravações, Pete Shelly, por meio de uma carta de seu advogado para o resto da banda, avisa que os Buzzcocks não existem mais. Uma pena.
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