Corporal Punishment - Fridays and Saturdays EP
- André X
- 19 de fev. de 2018
- 2 min de leitura
Em 1980, após servir um ano no exército sul africano, André Pretorius volta ao Brasil para visitar os amigos. Na bagagem, traz dois compactos de bandas novas de seu país que nos deixaram de boca aberta. Primeiro, porque África do Sul, naqueles tempos, era o país mais odiado da terra – e com razão. Vivia um intenso apartheid, condicionando os negros nativos a uma brutal repressão e segregação. Nenhum artista internacional tocava no país. Então qual a surpresa de descobrir que o som que estava sendo feito no underground lá era compatível com o que ouvíamos, tinha uma qualidade absurda e, ainda, com letras sociais e críticas das políticas sendo impostas nos sul africanos.

O disquinho que mais curtimos foi o ep do Corporal Punishment, Fridays & Saturdays, com quatro músicas, uma melhor que a outra. O grau de composição, as harmonias, as guitarras eram de um bom gosto tão grande que eu tenho certeza que, não fosse sua origem, teriam estourado no mundo livre da época.
A história deste disco está totalmente alinhada com a estética e filosofia deste blog. Gravaram as quatro música em três horas que sobraram de um aluguel de estúdio de outra banda. O próprio Pretorius desviou o material necessário para imprimirem em serigrafia tosca as capas. Ele até assinou o encarte, xeroxado e montado à mão. Selo próprio, independente e distribuído de mão em mão, porta em porta, show a show.

Uma coisa legal é que o vocalista, James Phillips, fazia questão de não esconder seu forte sotaque sul africano, outro fato que talvez os deixava de fora das rádios inglesas. Lado A abre com In the Night. Interessante notar como tem um certo groove e guitarrinhas disco, próprio das músicas sendo feitas em Soweto naqueles anos. Música que trata de medo do escuro. Estaria fazendo alguma analogia do branco versus preto da sociedade em que vivia. Diz Phillips que sim.
Em seguida, fechando o lado A, Brain Damage, expondo a exploração dos negros nos empregos operacionais e os negócios de família que eram passados de geração em geração, acumulando riqueza com poucos. He's a supervisor, it takes a lot of skill to be in charge of 40 kaffirs – that's responsible! He doesn't mind that he gets all the pay, and Mr Arrie Paulus says "They're just baboons anyway”.
O lado B abre com Johnny´s Conscience, minha favorita. Produção impecável, não sei como conseguiram fazer isso em apenas três horas.
Fechando essa obra prima sul africana, um dos meus compactos favoritos, que levaria entre os dez para uma ilha deserta, está Rock and Rolls Royce, trazendo, na letra, um ataque ao disco, mas na música, um groove indicando que ouviam esse tipo de som também – ou pelo menos dançavam.
PS- infelizmente, só consegui achar uma das quatro músicas no Youtube. Fiquei triste, a ideia deste blog é compartilhar. Se alguém souber de um jeito de gravar tudo que posto para permitir o download do leitor, me avise.
tem no spotify: https://open.spotify.com/album/349rT3WGcWxb7osBlhqmnm?si=uyF25QERQ7SR4idM8Gq8Lg
https://shiftyrecords.bandcamp.com/album/the-completely-amazing-corporals
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Som massa, mais bacana ainda é a história por trás dessa banda. Obrigado por compartilhar, André Mueller. Excelente texto !