Cravats - Bridges Burning
- André X
- 6 de jan. de 2018
- 2 min de leitura
Com mil selos brotando de tudo quanto é cidadezinha inglesa, nada mais natural que estes procuravam se diferenciar, cada um buscando seu nicho. Com isso, pela primeira vez na história do rock (isso já havia acontecido no soul e no jazz), pessoas começaram a seguir o selo, conforme seu interesse no som, e não somente os artistas.
Isso ficou muito claro para mim em duas ocasiões nos anos 80s. Na primeira, com Renato Russo, colocando em ordem os LPs do selo Rough Trade conforme ordem cronológica dos respectivos números de série. Lá estavam, gloriosamente enfileirados, Inflammable Material, dos Stiff Little Fingers (ROUGH1), A Trip to Marienville, dos Swell Maps (ROUGH2), The Raincoats (ROUGH3) e Mix-Up, do Cabaret Voltaire (ROUGH4). Comprávamos sem saber nada da banda, bastava ter sido lançado pela Rough Trade.
Na segunda, vendo discos importados numa loja no Rio, começo dos 80s, com o Chico Bóia, encontramos o primeiro disco do Clan of Xymox, no selo 4AD. Nunca tínhamos ouvido falar na banda, mas o selo já tinha nos proporcionado outras maravilhas, como Bauhaus, Modern English, The The e Birthday Party. Compramos, sem pensar duas vezes.
Um dos selos que seguia, como adolescente, era o Small Wonder Records, que funcionava na parte de trás de uma lojinha em Walthamstow, Londres. O selo, como outros dois já mencionados neste blog - Rough Trade e Factory, foram homenageados pelo Clash na música Hitsville UK: "when lightning hits SMALL WONDER, it's fast rough factory trade”.*

O que nos leva aos Cravats e o compacto que tem, como lado A, a maravilhosa música Bridges Burning. Essa banda já era esquisita na época, pois, influenciados pelo jazz, traziam arranjos díspares nas suas músicas puxadas para o punk. Ainda por cima, tinham um naipe de metal que fazia umas melodias muito doidas. Tenho certeza que Jello Biafra se inspirou em vários arranjos de metais dos Cravats para discos do Dead Kennedys.

Era um compacto muito legal para se comprar à época, na qual dependia de mesada e trocos do meu almoço escolar para comprar discos, pois vinha com duas músicas no lado B. I Hate The Universe e The End são muito boas também, fazendo desse 7 polegadas ter um excelente custo-benefício.

Os Cravats voltaram no ano passado, lançando o seu segundo disco (o primeiro era de 1980!). E foram muito bem recebidos pela crítica especializada, que, no final dos 1970s nem deram muita importância para a banda. Um dos comentários mais legal que li do novo disco foi esse: I hope it will be heard by everyone seeking something joyfully different in music – people bored with the generic and the targeted, the tired and the past their prime, running on empty once-heroic. Se fosse músico, uma frase dessas sobre meu disco já seria o suficiente para compensar todo o esforço, aposentaria feliz.
Aqui, o lado A, Bridges Burning:
Lado B, The End:
E, ainda, I Hate the Universe:
* uma notinha à parte: Hitsville é o nome da sede (hoje museu) do Motown Records, em Detroit, selo responsável por criar o som negro dos 1960s. Acho que o Clash estava querendo, nessa música, fazer uma comparação com o momento histórico dos 1970s na Inglaterra com o que aconteceu em Detroit, nos 1960s.
Comments