Destroy All Monsters - Bored
- André X
- 7 de out. de 2018
- 2 min de leitura
Pense em Detroit e arredores, nos meados dos anos 1970s, mais especificamente na Universidade de Michigan, com a cena tomada pelos Stooges e MC5. Quem já leu (e quem não leu, recomendo fortemente) Mate-me por Favor, do Legs McNeil e Gillan Mc Cain, que conta a história falada do punk americano, sabe que o vibe era único, autêntico e com muita adrenalina. Tinha outra banda que também fazia muito barulho (metaforicamente e literalmente), veio desenvolvendo uma linha muito própria, porém característica de Detroit, que vale conhecer.
Essa é a Destroy All Monsters, também conhecida como DAM. O nome foi tirado de um filme-B japonês, de 1974. A banda foi fundada por um grupo de estudantes de arte da Universidade de Michigan e teve várias formações. O núcleo era o casal Cary Loren e Niagara. Assim como o MC5 e os Stooges, eles moravam todos juntos, num espírito anarco-comunitário. A casa se chamava "God's Oasis Drive in Church" ou simplesmente o Oásis de Deus.

Para fazer seus shows, o DAM usava uma tática similar às das bandas de Brasília: chegar com o equipamento num local, plugar tudo e sair tocando até ser expulso pela polícia ou vizinhança. A primeira apresentação foi numa loja de quadrinhos onde tocaram uma versão bizarra de Iron Man por mais de meia hora, até serem expulsos.
A banda começou a receber um pouco mais de atenção quando o Ron Ashton (sim, AQUELE Ron Ashton, ex-guitarrista dos Stooges!!!) e o Michael Davis (sim, AQUELE ex-baixista do MC5, recém saído da prisão após cumprir pena por tráfico de drogas) entraram para a banda. Com essa formação, gravaram o primeiro compacto, com duas petardas maravilhosas. Com uma formação dessas, a Cherry Red, selo independente inglês, resolveu lançar sem ouvir (também faria isso). Não se arrependeu, o single virou um clássico do punk underground, recebendo críticas favoráveis de todos os veículos e fanzines, chegando ao topo das listas de melhores do ano, em 1978.

No lado A, Bored, tema recorrente do punk, o tédio. O que chama a atenção é o arranjo. Guitarras precisas, distorcidas no exato grau que provoca a liberação de energia e adrenalina no ouvinte, batidas com a complexidade acima do que rolava no punk, mas sem perdera o lado dançante e a belíssima voz da belíssima Niagra. Ela canta com toda convicção de que realmente está morrendo de tédio.
Viramos o disquinho e temos You´re Gonna Die, outra ode ao nihlismo punk e outro arranjo sublime, com especial atenção às guitarras. Tenho muito apreço a este compacto. Se tivessem durando, acho que seriam uma grande banda de rock, acima da média. Acho eles a ligação perfeita entre o pré-punk e o punk, entre Detroit e Londres. Mas claro, problemas internos houveram. O casal Niagra/Loren se separaram e ela foi ter um caso justo com o Ron Ashton. Implodiu na hora. Houveram outros lançamentos, o Thruston Moore, do Sonic Youth, lançou uma coletânea, mas a banda já não era funcional. Uma pena.

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