Doctor Mix & and the Remix - No Fun
- André X
- 1 de mai. de 2018
- 3 min de leitura
Stooges é uma daquelas bandas que compuseram músicas tão perfeitas, tão bem interpretadas, tão bem executadas, que qualquer cover faz a gente querer ouvir a versão original novamente. Tenho essa sensação com os covers de No Fun, feita pelos Pistols; de Search and Destroy, com os RHCP; e até com a do 1970, com o Damned. Eram legais, mas não acrescentavam nada, não traziam um novo ângulo, nem nova energia quando comparada com as pérolas do Iggy e Cia.
Conto nos dedos de uma mão de ex-Presidente os covers de Stooges que gosto. Na verdade são dois, sendo que a primeira é uma versão jazz de Dirt, feita pelo Lisa Mezzacappa Trio, que é uma das coisas mais lindas influenciada por Detroit. O segundo é justamente esse single de 1978, lançada em 1979, por Doctor Mix and the Remix, no selo Rough Trade.

Para entender as origens dessa maravilha, temos que retornar aos inícios do punk, ao ano divisor de águas do rock n roll, 1977. Mais especificamente, à Paris, onde um bando de franceses malucos, fãs do disco Metal Machine Music, do Lou Reed, começam a ouvir Pistols e Clash. Dessa mistura, surge o Métal Urbain, com um visual punk, estética punk e com algo a mais. Mais distorção, mais batida, mais sintetizadores e baterias eletrônicas. O som deles agradou tanto ao Geoff Travis, que ele fundou o selo Rough Trade, um dos pioneiros da cena independente inglesa, para lançar o primeiro compacto do Métal Urbain, em 1978, o clássico Paris Maquis, com Cle De Contact, no lado B. Ou seja, o mais inglês dos selos, responsável pelos artistas mais ingleses, de Smiths a Jarvis Cocker, começou lançando uma banda francesa.

Um dos fundadores do Métal Urbain, Éric Débris, vocalista e responsável pelas programações, no ano seguinte, forma, com ele mesmo (um conjunto de um homem só) o Doctor Mix and the Remix. Vamos dar crédito a esse francês, em 1978, era pouquíssimo usado o termo "remix". Ele já estava antenado no que estava para vir. O primeiro compacto foi esse: no lado A e B versões de No Fun, dos Stooges.
Para o lado A, um No Fun como os Stooges nunca imaginaram. Uma batida programada, sintetizadores e uma guitarra distorcida, gravada e passada novamente pela distorção. Éric conta que fazia distorção da distorção até atingir um nível de drone dos acordes, soando como uma fonte única de som. O vocal, também distorcido usando o mesmo método, parando naquele ponto onde ainda é possível entender as letras.
Quando morava na Inglaterra, em 1978, o John Peel tocava dia sim, dia não, essa versão. Ele alegava que ao fundo, dava para ouvir uma canção do Captain Beefheart que ele não conseguia identificar e que isso estava o deixando maluco. Não conheço tão bem o Capt. Beefheart, por isso não consigo afirmar. Se alguém conhece, por favor esclareça se tem mesmo ou se era viagem do saudoso DJ.
No lado B, No Fun (Version), cover da mesma música, porém com guitarras menos distorcidas e o vocal entrando só em alguns pontos estratégicos para nos lembrar de qual música estão versando. É como um dub experimental. Bom para tocar em festas que tem pessoas que sacam muito de música.
Doctor Mix and the Remix ainda lançou um álbum, chamado Wall of Noise, com outras versões legais. Vale a ouvida.
Muito bom este cover. Tenho um box que reune os Metal Urbain e os dois Doctor Mix...sensacional!!!