Family Fodder - Playing Golf (With My Flesh Crawling)
- André X
- 15 de mar. de 2018
- 2 min de leitura
Atualizado: 25 de mar. de 2018
Naqueles primórdios do post-punk, quando as comportas da criatividade no rock n roll foram abertas por Pistols, Clash e Damned, quando os limites do que era aceitável como rock n roll foram abolidos, muitos punks com visão limitada acusavam os mais audaciosos como traidores do movimento ou, dependendo da inclinação musical que o grupo apresentava, de hippies e progressivos. Family Fodder, em 1978, foi acusado dos dois. Alig Fodder, o criador, mentor e centro da banda, foi xingado por ser um "punk hippy". "Não somos não!" retrucou. "Somos hippy punks!"
Comparo o Family Fodder com o Fall. Ambas têm uma produção volumosa no decorrer das décadas, cada lançamento traz uma formação diferente e, finalmente, cada uma tem ao centro uma figura que incorpora o âmago da banda. No caso do Family Fodder, o já mencionado Alig Fodder, um multi-instrumentista (toca guitarra, baixo, teclados, saxofone, percussão e ainda canta) e experimentalista sonoro. Sua "família" são os músicos que estão com ele naquele determinado projeto. Muitas vezes, eram convidados cantores/as cujo idioma natural não era o inglês para fazer os vocais, pois achava que assim a música ganhava outra dimensão.
Family Fodder já foi classificado como "pop surreal", "loops experimentais", "dub psicodélico" e "folk alien". Apesar de serem praticamente obscuros para a maioria dos ouvintes, conseguiram ganhar admiração de pessoas como o pessoal do YATCH (que considera eles o all-time favorite band e gravou uma versão de I Wanna Fuck You Till I'm Dead, do Family Fodder), do LCD Soundsystem e do Andrew Weatherall, aquele que produziu o único disco bom do Primal Scream.

Este texto é dedicado ao primeiro compacto da banda, lançado em 1978, com a música Playing Golf (With My Flesh Crawling) no lado A. Foi um lançamento colaborativo entre dois selos, o Parole Records e o Fresh Records. Com a atenção recebida, a banda foi contratada pelo selo independente, mas agora não tão mais pequeno, Small Wonder. Na época, eles eram um duo, o Alig, com teclados e guitarras, e um tal de Rick Wilson, na bateria e percussões. Interessante que o disquinho foi produzido por Charles Bullen, do influente grupo This Heat, que passou a orbitar em torno da banda no futuro. Essa música foi descrita por um crítico como sendo uma mistura de Residents com Frank Zappa. Para mim isto já é razão suficiente para que alguém dedique seu tempo a ouvindo.
Lado B nos deliciamos com My Baby Takes Valium, que realça o veio experimental, porém acessível, do Family Fodder.
Quando tinha somente uma faixa deles numa fita K7 gravada da BBC, não entendia corretamente a pronuncia do nome da banda, então eu os chamava de Family Foda. Esse nome é muito apropriado, pois a família do Alig é realmente foda. Basta ver o vasto material lançado desde este primeiro compacto. A família só cresceu, em tamanho, em produtividade e em qualidade no passar dos anos. Vale explorar o catálogo. Fica a dica, se quiser sair do comum.

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