Mekons - Never Been in a Riot
- André X
- 17 de jan. de 2018
- 3 min de leitura
Como agir dentro da estética politicamente independente, anti consumista e, ao mesmo tempo, promover a sua arte? Esse era o grande dilema enfrentado pelos artistas pós-punk de 1978/1979. Como reter a chancela underground e, simultaneamente, atingir um número maior de pessoas? O selo escocês Fast Products é o que mais expôs essa dialética. Formado em Edimburgo por Bob Last e Hillary Morrison, em 1977, cada lançamento era uma alfinetada na indústria fonográfica, uma quebra das convenções pop e, pasmem, pérolas em vinil. Os caras tinham um faro fino pelo que melhor estava acontecendo no circuito independente. Tinham ouvidos afinados, prevendo, por meio dos seus discos, o som que estava por vir.
Não preciso nem dizer que é meu selo independente favorito. Também mencionado pelo Clash na música Hitsville UK, junto com os outros selos Small Wonder, Factory e Rough Trade. "When lightning hits Small Wonder/It's Fast Rough Factory Trade".
Vamos pegar o primeiro lançamento, número de catálogo FAST 1, da banda Os Mekons. Lado A: Never Been in a Riot, uma sátira, uma antítese ao White Riot, do Clash. Enquanto Joe Strummer e Cia pediam manifestações e quebra-quebras, os Mekons cantavam sobre o garoto comum, que nunca esteve numa revolta popular, nunca brigou, não participou de tumultos, nem motins, e não tem certeza se quer se envolver nesse tipo de violência. Nihlismo no seu senso maior, cantado na contramão do sentimento reinante de punk/macho/revolucionário, e ainda, cutucando os intocáveis Clash. Uma obra de arte.

No lado B, 32 Weeks, que traduz para o punkês aquela teoria econômica sobre a distribuição do seu tempo entre lazer e trabalho, que leva em conta o valor que você dá para cada um. Se fosse professor de economia do trabalho, iria tocar essa música no início de cada semestre para a turma. De quebra, um lado B duplo, finalizado pela faixa Heart and Soul.

Bob Last escolheu a dedo os Mekons, a banda perfeita para seu projeto de selo que não lançava discos, mas sim produtos, que visava expor o mercado banal pop, se infiltrando e o destruindo por dentro. Os Mekons eram um bando de punks intelectuais, que discutiam socialismo versus anarquismo, que não sabiam tocar e, mais importante, estavam loucos para morder a mão que alimenta. Um artigo no Melody Maker, em 1979, se refere à banda como "uma estranha combinação de teoria sofisticada e incompetência técnica", e ainda adicona: "O gênio dos Mekons sempre ficou na forma como eles expuseram seus defeitos em vez de escondendo-os e colocá-los em uso imaginativo"
Ele poderia ter escolhido o Gang of Four, que já estava no seu radar. Ainda, porque, os Mekons nem tinham instrumentos, ensaiavam com os do Gang of Four quando esses faziam breaks. A escolha dos Mekons foi para estressar o seu ponto, a sua visão. É uma declaração mais que um disco. Um produto. E eu consumi.
Fast Products acabou lançando para o mundo o Gang of Four, Human League e Scars, entre outros. Não tinha uma bola murcha saindo do selo nos seus dois anos de existência. Para aqueles que querem conhecer mais, tem um LP reunindo os seis primeiros compactos da gravadora chamado "Fast Product - Mutant Pop", que recomendo muito. Adoro a contracapa, com as capas dos compactos desconstruídas.


Fast Products ainda tem muito pano para manga nesse blog.
Never Been in a Riot:
32 Weeks:
Heart and Soul:
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