Public Image Ltd. - Public Image
- André X
- 20 de set. de 2018
- 2 min de leitura
Cheguei na Inglaterra em agosto de 1978, encontrando um país já de ressaca com o punk 1977. Os Pistols tinham acabado, o Clash desapareceu na Jamaica e os grupos que ainda carregavam o rótulo eram cópias ruins dos originais. Sid Vicious estava preso, acusado de matar sua namorada e o que salvava era que o John Lydon, ex-Rotten, estava para lançar o primeiro compacto de sua nova banda, Public Image Ltd., que também viria a ser conhecida como PiL, que prometia misturar música avant gard, com dub, com kraut, com disco e, claro, o que prestava do punk.
O que fascinava do Lydon era que, assim que os Pistols acabaram, mostrou ser muito mais do que era vendido na sua ex-banda. Enquanto os outros Pistols continuaram a ser fantoches do Malcom McLaren, indo gravar no Rio com um assassino fugitivo da justiça inglesa, ele foi para Jamaica descobrir novas bandas para a Virgin. Depois, fundou uma espécie de comunidade no coração de Londres. Sua casa, perto da famosa King Road, tinha uma política de portas abertas. Rastas, punks, artistas, pintores, subversivos, e nomes improváveis, como a compositora ganhadora de Grammy, Joan Armatrading, e o compositor das trilhas do filmes de James Bond, John Barry, viviam lá, promovendo uma festa permanente, com muita música fora-do-radar. Tudo isso gerava mais curiosidade com o que estava por vir no tal PiL.

Finalmente saiu o compacto. Embrulhado num papel jornal cheio de notícias falsas impressas (o primeiro disco foi na forma de capa de revista, fechando o pacote). No lado A, uma música que já diz ao que veio, Public Image. A letra é um protesto contra a forma que foi vendido, contra a imagem fabricada do Joãozinho Podre, da forma que o público comprou essa fraude e, ainda, um protesto contra seus ex-companheiros nos Pistols, que, de acordo com o Lydon, não tinham ideia sobre o que estava sendo cantado nas músicas. Começa com um Hello e termina com um Good-by. A influência do dub fica nítida, com o baixo do Jah Wobble ganhando uma prominência na mixagem. Mostrava um saudável desvio dos três acordes do punk, sem ser progressivo. A imagem pertence a mim, Lydon canta e rebate, não sou propriedade da sua adolescência. Nunca antes na história da música um artista da uma bronca dessas em sua audiência, nos seus fãs. O compacto chegou ao nono lugar nas paradas, um feito e tanto.
Se o lado A continha uma música acessível, pelo menos na melodia e estrutura, o lado B trazia alguma pista para o experimentalismo que a banda estava cozinhando no estúdio. Cowboy Song é uma cacofonia, com gritos em cima de um baixo presente e martelando na testa do ouvinte. Só tocaram essa música ao vivo duas vezes. E foi no mesmo show, uma em seguida da outra. O público deve ter pirado – e não no bom sentido. Muito antes do Jesus & the Marychain, o Public Image já trazia a microfonia para dentro do lar dos ouvintes com essa faixa. Confesso que, na primeira vez que ouvi, pensei que meu disco estava com defeito. Quase devolvi na loja. Hoje uso para exorcizar um dia ruim e assustar os vizinhos.

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