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Raincoats - Farytale in the Supermarket

  • Foto do escritor: André X
    André X
  • 12 de abr. de 2018
  • 3 min de leitura

Em 1992, Kurt Cobain vaga pelas ruas de Londres atrás do primeiro disco das Raincoats. Na loja da Rough Trade, o selo que lançou o LP em 1978, ele obviamente encontra uma cópia usada e, ainda, descobre que Ana da Silva, a guitarrista e vocalista, tem uma loja de antiguidades a algumas quadras de lá. Ele vai, morrendo de vergonha, se apresenta. O Kurt, comparando a sua banda Nirvana aos Raincoats, conforme ele mesmo relata, se sente muito inferior, tem medo que a Ana vai achar ele “tacky” (essa é a palavra que usou, podemos traduzir por “cafona”). Viram amigos.

Porque o Kurt Cobain queria tanto o disco, já fora de catálogo, das Raincoats? Vamos deixar ele mesmo contar: “The Raincoats recorded some music that has affected me so much that, whenever I hear it I'm reminded of a particular time in my life when I was (shall we say) extremely unhappy, lonely, and bored. If it weren't for the luxury of putting that scratchy copy of the Raincoats' first record, I would have had very few moments of peace”. Traduzindo livremente: “As Raincoats gravaram música que me afetou tanto que, sempre que a ouço, me lembro de uma época específica da minha vida em que eu estava (digamos) extremamente infeliz, solitário e entediado. Se não fosse pelo luxo de colocar aquela cópia arranhada do primeiro disco dos Raincoats, eu teria tido muitos poucos momentos de paz”.



Acho fantástico essa declaração. Assisti as Raincoats em 1979, no Electric Ballroom, em Londres com meu irmão. Fomos para ouvir, principalmente, Fairytale in the Supermarket, com sua letra feminista, realista, e aquele violino que leva a gente numa viagem muito boa, onde todos podemos conviver em paz. Na entrada do show, tínhamos que passar por um “corredor polonês” de mulheres gritando “castrem os homens, castrem os homens”. Curtimos demais. Fui esperando que teria uma chance de falar em português com a Ana da Silva, a líder desse conjunto com quatro mulheres. Não rolou.



Essa música foi o lado A do compacto de estreia das Raincoats, pela Rough Trade, que já estava antenada no som novo, das bandas novas, da forma nova e caótica de fazer música que estava nascendo das cinzas do punk. É raro uma música dessa época ter um clipe oficial, ainda não existia MTV e só bandas tipo Beatles e Monkees tinham clipes. Mas, por alguma razão, que eu suspeito que é para reforçar a mensagem da música, eles fizeram um para Farytale in the Supermarket.



No lado B, duas outras pérolas, fazendo esse um disquinho do qual o Kurt ficaria orgulhoso de ter em sua coleção. Primeiro, In Love, pois até as feministas se apaixonam, mas com um twist. E esse violino de novo? Coisa linda!



E, finalizando, uma favorita minha, que também está no LP, Adventures Close to Home. Reparem na batida, meio solta, meio improvisada, da Palmolive, que saiu das Slits, a mais famosa banda punk inglesa só de mulheres, para tocar bateria com as Raincoats. A harmonia vocal também tem um arranjo muito legal.



Quando o Kurt voltou para os EUA, com o disco das Raincoats debaixo do braço e o telefone da Ana da Silva na sua agenda, ele foi direto para a sua gravadora e obrigou-os a lançar, cinco anos depois, o disco em solo americano. Assim, essa banda teve um lançamento, em 1978, na Europe, por um selo independente, Rough Trade, e, em 1992, mundialmente, pela Geffen Records, uma multinacional.


Ainda vale a pena ouvir o que a Kim Gordon, do Sonic Youth, fala delas: “I loved the Slits because of their boldness and that they actually had commercial songs, but it was the Raincoats I related to most. They seemed like ordinary people playing extraordinary music. They had enough confidence to be vulnerable and to be themselves without having to take on the mantle of male rock/punk rock aggression...or the typical female as sex symbol avec irony or sensationalism."

 
 
 

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