Siouxsie & the Banshees - Hong Kong Garden
- André X
- 25 de mar. de 2018
- 3 min de leitura
Siouxsie Sioux estava lá desde o início, acompanhando o embrião dos Pistols e do Clash, sempre ao lado do baixista Steven Severin. Caindo de cabeça no faça-você-mesmo, montaram os Banshees em 1976, com uma formação que contava com Marco Pirroni nas guitarras (depois ele foi para o Rema Rema e o Adam and the Ants) e o Sid Vicious no baixo, tinham só uma música, The Lords Prayer, que nada mais era que um improviso de 20 minutos, ou mais, com muito barulho, microfonia e a Siouxsie declamando trechos de músicas que ela gostava, rezas e literatura.
Logo se tornaram insiders da cúpula do punk `77, frequentemente vistos nos camarins e festas promovidas pelo McLaren e cia. Chamavam a atenção, com excelente e audaciosas vestimentas, maquiagem e postura. Todos haviam assinado com grandes gravadoras, Clash, Pistols, Stranglers e até o Damned, era uma questão de tempo que os Banshees fossem chamados. Mas nada. Estava demorando demais.
A banda, agora com os extremamente competentes Kenny Morris, na bateria, e John McKay, nas guitarras, já tinham músicas de verdade e conquistaram um séquito forte. Esse pessoal não aguentou esperara, começaram a pixar as paredes de Londres com a frase “sign Siouxsie!”, ou seja, contratem a Siouxsie. Essa frase estava em todos os lugares, no Underground (metrô), nas passarelas, nas paredes, nos muros e nos becos. Estava em todas as formas, pixadas a mão, com stencils ou até em caneta escritas nos assentos dos ônibus e trens.

Percebendo que talvez houvesse algo aí que os caçadores de talento deles não tivessem percebido, a Polydor, grande multinacional holandesa, contratou a banda em 1978. Daí foi a expectativa da espera do primeiro disco, que seria, claro, um compacto. A música escolhida, a dedo, foi Hong Kong Garden, uma canção com traços orientais, escrita pelo John McKay. Aliais, ele foi o grande responsável pelo som dos Banshees nos dois primeiro LPs, compondo quase tudo sozinho. Ele deixou a banda de forma bizarra, em 1979, no auge da excursão do segundo disco, Join Hands, num show lotado em Edimburgo, na Escócia.
A banda de abertura era o Cure, eles estavam no final de sua apresentação e nada do McKay, nem do Morris, aparecerem. Siouxsie e Severin prontos para entrar no palco e nada do batera e do guitarrista. Mandaram alguém procura-los no hotel. Quando entraram no quarto, que dividiam, encontraram dois bonecos deitados na cama com um monte de alfinetes espetados e um bilhete: deixamos a banda. A solução, para salvar o show, foi convidar o Robert Smith no palco para fazer uma versão de Lords Prayer. O público, claro, ficou de cara, queriam ouvir as músicas dos Banshees, não esse improviso. Mas a raiva que a Siouxsie estava cantando suas letras compensou. Ficou registrado como um show único, histórico.

Mas vamos voltar ao compacto. A Polydor enfiou a banda num estúdio caríssimo com um produtor de sou, o Bruce Albertine. O resultado foi uma decepção para os Banhsees, odiaram. Sorte que o empresário deles conseguiu um estúdio mais barato e o, então desconhecido, Steve Lillywhite para ser o produtor. Ele entendeu de cara o som que a banda queria e regravou tudo. Para as baterias, usou um processo de gravação nunca feito antes, gravando peça por peça. Primeiro o bumbo, depois a caixa, depois os pratos, etc. Usou ecos e efeitos nunca usados na bateria. Como as peças estavam em trilhas separadas, pode fazer isso sem afetar o som geral. Dizem que essa forma de gravar bateria pavimentou o som post-punk. Importante mencionar que essa guitarra no final (um solo de acordes!) foi considerada pela revista Q como uma das melhores guitarras de todos os tempos.
John McKay era tão foda, que o lado b, como todo lado b, era uma canção experimental sua, Voices. No estúdio, só ele e a Siouxsie, com o Steve Lillywhite trabalhando os detalhes de efeitos na guitarra e nos vocais. O resultado é sombrio e nada parecido com que outras bandas punks estavam fazendo na época. Desde o início, a Siouxsie deixa claro para que veio, conseguindo, ao longo da carreira, sair da camisa de força da estética punk, criando sua própria história, sempre imitada, mas nunca igualada.
Não poderia deixar de registrar que a Plebe Rude teve o prazer de abrir os três shows dos Banhsees em São Paulo e Santos, no ano de 1986. A princípio, fomos solenemente ignorados pela banda, tínhamos ordens de ficar trancados no camarim quando a banda estava presente. No entanto, em Santos, onde tínhamos um dos maiores públicos da Plebe, durante o show da Siouxsie, o público ficava gritando “plebe! Plebe!”. Dai, sacaram que não éramos armação e nos convidaram para confraternizar após o show. O resultado foi que matei uma garrafa de conhaque com o Severino e tive dois dias maravilhosos de ressaca para me lembrar do encontro (e o que eu esqueci, foi registrado pelo Nicolau El Mor, autor da foto abaixo).

Foi em 1986, dia 29 de novembro o show no Caiçara Clube de Santos, casa de shows antológica da baixada santista