The Clash - Complete Control
- André X
- 12 de mar. de 2018
- 2 min de leitura
Elvis Costello conta que quando ouviu o primeiro disco do Clash, ouviu seis vezes em seguida, somente virando o lado. Foi assim comigo também. Minha cópia foi entregue em mãos, em 1977, pelo Fê Lemos, hoje baterista do Capital Inicial, naquela época meu vizinho na Colina recém retornado de uma estadia na Inglaterra. Fui para casa, ouvindo interruptamente até meus outros LPs se esconderem de vergonha. O compacto desse LP foi o White Riot e o disco continha também um cover de Police and Thieves, do Junior Murvin e Lee Perry.
Com o sucesso, a CBS queria lançar outro compacto, mas a banda não queria. Contrariando o Clash, a gravadora escolheu a música Remonte Control, do LP, e ainda tacou uma versão ao vivo de White Riot no lado B. Joe Strummer e Cia. ficaram revoltados. A raiva, a indignação de ter sua obra violada, a ficha caída que gravadora grande não quer saber de arte, só grana, foi combustível para compor a sua melhor música: Complete Control, ou seja, controle completo.

A primeira frase já o tom: “they said release Remote Control, we didn’t want it on the lable” (eles quiseram lançar Remote Control, nós não queríamos ela no selo). Em seguida, conta armações de promotores, empresários e rádios. Chegam à conclusão que o Zé Povão (Joe Public) é controlado por todos esses. Somos somente parte de um rebanho, sendo enganados pelos pastores. A música é poderosa, a letra, cantada com raiva, maravilhosa, direto na jugular. Até então, nenhuma banda de rock havia mordido a mão que alimenta, o Clash sacou e divulgou.
Outro fato bacana desse compacto, é que o Clash escolheu o Lee Perry para produzir o disco, a primeira vez que um produtor de reggae trabalhou numa gravação punk – ou até de rock. Lee Perry é um dos principais produtores jamaicanos, trabalhando no seu lendário estúdio Black Ark. Ele que inventou as principais técnicas de gravação usadas no reggae até hoje. Na parede do Black Ark, fotos de bandas que Lee Perry gostava. A única com músicos brancos: the Clash.
Perry estava em Londres produzindo um disco do Bob Marley. O Clash soube, convidou, Lee aceitou, e assim foi. Contam que ele conseguiu queimar os consoles do estúdio tentando colocar os graves no baixo do Paul Simonon. Apesar da troca de energia ter sido boa, quando Lee saiu, o pessoal do Clash aumentou todas as guitarras, que o Perry tinha colocado lá em baixo, dando preferência para baixo e guitarra. Esses são os bastidores do melhor single de todos os tempos.

No lado B, City of the Dead, onde you fall in love and fall in bed. Música sobre tédio, estado policial e falta de perspectiva. Tudo feito com um verniz poético, colocando a banda muito além dos outro punks que abordavam o mesmo tema, mas de forma muito mais infantil. E ainda tem um solo que saxofone sensacional.
Ainda tem uma alfinetada no Johnny Thunders, que veio à Londres, tentou comprar heroína, não conseguiu, e ficou xingando a cidade.
Don't you know where to cop
That's what New York Johnny said
You should get to know your town
Just like I know mine.
Os Heartbreakers, banda do Thunders, retrucou na música London Boys. Ficou revoltado com essa frase no City of the Dead.
Comments