The Damned - New Rose
- André X
- 3 de set. de 2018
- 3 min de leitura
New Rose, do Damned, é um marco importante para o punk. A imprensa já vinha acompanhando o movimento que surgia pelo país – à época, no meio de uma greve de lixeiros, resultando em pilhas de lixo nas calçadas das cidades, cheias de jovens desempregados e sem perspectivas de melhoras. Um ambiente perfeito para rejeitar o status quo do rock tradicional, totalmente descolado da realidade de seus ouvintes. O rock voltou às suas origens de protesto e voz da juventude. Só que dessa vez mais hostil, mais politizado, mais pessimista, mas ao mesmo tempo apontando um caminho que o futuro estava em nossas mãos, não nas dos políticos, não nas das corporações.
O punk era conhecido, mas não era ouvido, não havia discos e os shows, em sua maioria, eram proibidos. Tudo isso só gerou mais curiosidade, mas adeptos. Se a sociedade não quer, eu quero – era essa a atitude. Enquanto Sex Pistols e Clash negociavam com grandes selos, o Damned fez o caminho que viria a ser perseguido pela maioria dos punks e pós-punks que vieram depois e que realmente fizeram a cenas. Esse caminho era o dos selos independentes, e o primeiro single do Damned foi lançado por um dos mais bacanas, o Stiff Records (stiff = morto, cadáver – gíria para fracasso no meio musical). O selo começou com um empréstimo do vocalista do Dr. Feelgood de 500 libras para os sócios do Stiff. Essa história é muito legal.

Então lançam New Rose, no final de 1976, com seu tradicional começo com o Dave Vanium perguntando “Is she really going out with him?”, parodiado direto da canção Leader of the Pack, das Shangri-Las, de 1964. O estilo do Damned pode ser dividido em duas fases. A primeira, quando o guitarrista Brian James era o principal compositor e letrista. James era fã de Stooges, MC5 e New York Dolls, se esforçando a ter músicas tão boa quanto às dos seus ídolos. New Rose é isso, um Stooges/New York Dolls em marcha rápida, sem firulas, sem maquiagem, sem tentativa de agradar. Nasce um clássico.

A segunda fase, com a saída do Brian James, por não aguentar a bizarrice de seus colegas de banda, trás o Captain Sensible para a guitarra e papel de compositor. Vamos tratar dela no próximo post.
Rat Scabies era considerado o novo Keith Moon. Não usava o chimbal, mas sim os pratos. Quem conhece bateria, sabe que isso é difícil, você tem que ser muito bom. E ainda, tocava com um rato morto pendurado do bumbo e com um cigarro acesso na boca. No baixo, o maluco Captain Sensible, vestido, ora de de bailarina, ora de gorila. Um sujeito anárquico por natureza. No vocal, um cara que tenho a maior admiração: Dave Vanium, que acha que é um vampiro. Até hoje, vive nessa ilusão. E o James, um cara comum, querendo uma banda com a qual poderia viajar, tocar e compor. Não tinha isso, tinha um circo de freaks. Não durou muito.
Para terem um ideia, em 1977, teve o famoso Anarchy Tour, a turnê da anarquia, quando Clash, Pistols, Heartbreakers (do Johnny Thunders) e Damned, sairam pela Inglaterra para tocar e mostrar o punk. Das 17 datas, somente 3 aconteceram. O que se viu foram shows cancelados e a polícia não deixando entrar nas cidades. E não é que o Damned foi expulso da turnê? A turnê da anarquia expulsa a banda pois são muitos bagunceiros (pelo menos 3/4 dela, sim). Esse é o Damned, se autosabotando o tempo todo.

No lado B, uma desconstrução de Help, dos Beatles. Essa versão tem uma importância grande para mim, pois o André Pretorious dedicou a sua então namorada, Ginny. Eu achei isso a coisa mais romântica que um punk poderia fazer.
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