Wild Youth - Radio Youth
- André X
- 22 de fev. de 2018
- 2 min de leitura
Morar em Brasília, no final dos 1970s, tinha seus lados positivos e negativos. Se por um lado estávamos distantes dos centros culturais, isolados no meio do Planalto Central, sem uma rádio decente, sem contato com o pensamento coletivo dos outros jovens brasileiros, por outro, estávamos plugados globalmente. Na tchurma (como Renato Russo chamava a turma dos “punks” de Brasília) tinham filhos de diplomatas estrangeiros que viviam indo e vindo aos seus países de origem. Assim, a cada retorno, fim de férias, éramos brindados com discos da Iugoslávia, Alemanha, Rússia, Dinamarca, entre outros.
André Pretorius, fundador do Aborto Elétrico junto com Fê e o Renato, naquela volta para visitar os amigos em 1980, trouxe debaixo do braço dois compactos, que nos deu uma espiada no que estava acontecendo na cena punk/new wave da África do Sul. O primeiro, Corporal Punishment, já foi objeto de post neste blog. O outro, era de um conjunto que tirou o nome de uma canção do Generation X, o Wild Youth.

Wild Youth era bem mais próximo do punk inglês que seu contemporâneo Corporal Punishment. As duas músicas do compacto seguem o formato de centenas de outras bandas inglesas. O que chama a atenção é que são da África do Sul. Não estou dizendo que são ruins, mas não tem a mesma classe e complexidade do Corporal Punishment.
De um lado (não tinha lado A ou B), Wot bout Me, onde o vocal fica dizendo que não quer falar sobre Eric Clapton, Jimmy Hendrix, Jimmy Page, Johnny Rotten, Joe Strummer, entre outros. Só quer falar sobre ele. Que seja. É divertido.
Do outro lado, um pouco mais elaborado, o Radio Youth.
Uma coisa interessante desse lançamento é que só foram feitas 250 cópias. Recentemente, uma foi negociada no Discogs por US$ 1000! E eu tenho uma bem aqui do meu lado, olhando para mim enquanto digito essas linhas! E não vendo!
Por causa dessa venda, o compacto foi rotulado como o “disco sul-africano mais raro de todos os tempos”. Aproveitando a exposição, o grupo se reuniu novamente e regravou as duas músicas e relançaram o disquinho. Dessa vez com capa, pois o original não tinha, vinha somente com a capa genérica de sete polegadas, com a arte no selo do disco exposta. Mas sempre prefira o original.

Para os mais curiosos sobre os punks originais 1977/78 da África do Sul, sugiro este documentário. No começo, várias imagens do Wild Youth. Lembrando que era uma época negra (ou devo dizer, branca demais), com o apartheid e repressão.
Comments